I
Já era fim de tarde e minha paciência estava no limite (nenhuma
novidade, já que paciência nunca fez parte de mim). Ainda faltava
uma semana para o fim do último período da universidade e juro,
juro que se faltassem duas semanas, eu não chegaria ao fim. Pelo
menos, era sexta-feira e eu ia descansar no fim de semana e adiantar
tudo que eu pudesse. Definitivamente, nada atrapalharia meus planos,
nem as loucuras acompanhadas daquela cara de cão sem dono que a
minha colega de quarto, Vivian (Vivi), faz para me convencer de
“topar” suas invenções.
Parei no meio do caminho para comprar algo para comer e ir direto
para casa. Ao abrir a porta, Vivian já está com a cara verde de
tanta máscara, com o corpo coberto de creme, toalha na cabeça,
ouvindo música… Droga!! Isso não é um bom sinal.
- Calma, Sun. Você está decidida! Ela não vai te convencer dessa
vez. - repito isso para mim mesma, incontáveis vezes.
- Sun, estava mesmo a sua espera. Olha só…
- Nem vem, Vivian! Estou sobrecarregada e preciso descansar.
- Quem disse que você vai fazer alguma coisa? Eu farei tudo, já até
escolhi sua roupa.
Reviro meus olhos, giro sobre meus calcanhares e me dirijo a minha
escrivaninha onde despejo meus livros e bolsa e vou ao banheiro. De
frente para o espelho digo: - Você é forte, mocinha! Hoje, ela não
consegue.
Tudo que eu preciso neste exato momento é de um bom e demorado
banho para lavar essa semana de cima de mim. Pego meu celular e ponho
uma música no volume mais alto e entro no chuveiro. Sorriu ao ouvir
backstreet boys tocar, nem lembrava que havia baixado aquelas
músicas...lembranças boas me vêm a memória. Consigo lembrar do
dia em que escrevi uma carta quilométrica, cheia de I love you,
jurando que eles receberiam. Tempo que poderia voltar. Saio do banho
enrolada em meu roupão e deito na cama.
- Sun, por favor, vamos sair hoje? Vai ser uma festa perfeita na
piscina. Você vai se divertir, socializar, quem saber até conhecer
alguém, ficar...já se passaram quase 3 anos que seu relacionamento
com sr. Chato acabou e você está ai solteirona, sozinha, sem
ninguém. Você precisa se permitir…
- Vivi, não estou a fim de nada agora, muito menos de piscina,
barulho e casinhos amorosos estilo fast-food. O sr chato, tem nome e
você sabe: Rafael. E, eu estou muito bem sozinha e você, mais do
que ninguém, deveria saber.
- Acho que o sr Chato te fez a sra Chata!
- Garanto a você que nasci assim.
- Nem duvido! Você sempre foi chata mesmo. Mas, nunca insuportável.
Mas, amo você!
- Para, Vivi. Odeio cócegas. Sai! Vá terminar sua autoprodução.
Coloco meus fones de ouvido e vou me atualizar nas redes sociais.
Vivi sabe que odeio quando ela se joga na minha cama e faz cócegas
em mim. Adormeço e nem a vejo saindo.
- Nossa! Que horas são? A Vivi ainda não chegou. Também, não é
do seu feitio sair antes da última pessoa da festa, então, ela deve
chegar quando estiver amanhecido.
Caminho em direção a geladeira em busca de algo para comer. Não
levo muito tempo, considerando o tamanho do nosso apartamento
composto por uma sala, dois quartos, banheiro, cozinha e lavanderia.
Mas, é aconchegante, tem nossa cara, embora não tenha muitas coisas
já que ainda somos universitárias e não temos muito no banco.
Ainda bem que a Vivian fez compras… faço um macarrão, pego um
pouco de vinho e me sento na ilha da cozinha e como saboreando
lentamente. Faz tempo que não faço uma refeição com tempo. O
relógio marca 23h. Decido ver um filme até o sono chegar novamente.
Adoro romances, acho que porque me fazem sonhar acordada, embora não
esteja mais na idade.
- Que barulho foi esse? Uma hora dessas! Lado ruim de apartamentos..a
gente sempre escuta tudo que acontece no andar superior, os barulhos
parecem que ecoam dentro de casa. Melhor verificar e vê se alguém
se machucou e precisa de ajuda.